Inclina-me o coração a tua Palavra, e não à cobiça.
Inclina-me o coração a tua Palavra. Esta oração não parece
supérflua, já que, evidentemente, o coração do salmista es¬tava posto na
obediência? Estamos convencidos de jamais haver sequer uma palavra sobrando [ou
supérflua] na Escritura. Depois de rogar por uma virtude ativa, era
indispensável que o homem de Deus rogasse para que seu coração fosse posto em
tudo quanto ele fizesse. O que seriam seus avanços se seu coração não avançasse
também?
É possível que Davi sentisse um desejo flutuante, uma
propensão desordenada de sua alma por lucros materiais; possivelmente, mesmo
instruído em suas mais devotas meditações, de repente clamasse por mais graça.
A única forma de curar uma inclinação errônea é manter a alma voltada para a
direção oposta. A santidade do coração é a cura para a cobiça. Que bênção
podermos pedir ao Senhor até mesmo uma inclinação!
Nosso querer é livre; todavia, mesmo sem violar sua
liberdade, a graça pode inclinar-nos na direção certa. Isso pode ser feito
através da iluminação do entendimento quanto à excelência da obediência,
através do fortalecimento dos hábitos de nossa virtude, pela experiência da
doçura da piedade e por muitos outros meios. Se algum dever se nos torna
maçante, cabe-nos oferecer-lhe esta oração com especial referência; é preciso
que amemos todos os testemunhos do Senhor; e se falharmos em algum deles, então
que prestemo-lhe duplicada atenção. A tendência do coração é o caminho para o
qual a vida se inclina; daí a força da petição: "Inclina meu
coração." Felizes seremos quando nos sentirmos habitualmente inclinados a
tudo quanto é bom! Esse não é o modo como um coração carnal sempre se inclina;
todas as suas inclinações estão em franca oposição aos testemunhos divinos.
E não à cobiça. Esta é a inclinação da natureza, e a graça
tem de pôr um basta nela. Este vício é tão injurioso quanto comum; é tão banal
quanto miserável. É idolatria, e portanto destrona a Deus; é egoísmo, e
portanto é cruel a todos em seu poder; é sórdida ambição, e portanto venderia o
próprio Senhor por dinheiro. É um pecado degradante, aviltante, obstinado,
mortal, que destrói tudo o que o rodeia, tudo o que é amável e cristão. O
cobiçoso pertence à confraria de Judas, que com toda probabilidade se tornará
pessoalmente o filho da perdição. O crime da cobiça é comum, porém bem poucos
se dispõem a confessá-lo; pois quando uma pessoa cumula ouro em seu coração, o
pó dele embaça seus olhos, de modo que não consegue divisar seu próprio erro.
Nosso coração provavelmente tenha algum objeto de desejo, e a única maneira de
isentá-lo do lucro profano é pondo em seu lugar os testemunhos do Senhor. Se
nos sentirmos inclinados a tomar uma vereda, seremos atraídos para outra; a
virtude negativa com certeza é mais facilmente dominada quando a graça positiva
predomina.
(Charles Haddon Spourgeon)
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