
Há 494 anos, no dia 31 de outubro de 1517, um monge
agostiniano católico bateu à porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, na
Alemanha. Com um martelo à mão. E lá pregou – e publicou – aquelas que ficariam
conhecidas como as 95 Teses.
O nome oficial do documento era Disputação do Doutor
Martinho Lutero sobre o Poder e Eficácia das Indulgências, e, nele, Lutero, o
monge do martelo, questionava os ensinamentos da Igreja com relação à
penitência, à autoridade papal e às indulgências, que então eram vendidas para
a construção da Basílica de São Pedro, de Roma.
A proposta era promover uma reforma no catolicismo,
especialmente a partir de cinco princípios fundamentais, os chamados Cinco
Solas:
Sola fide (somente a fé);
Sola scriptura (somente a Escritura);
Solus Christus (somente Cristo);
Sola gratia (somente a graça);
Soli Deo gloria (glória somente a Deus).
Com o passar do tempo, Lutero foi apoiado por vários
religiosos e governantes europeus provocando uma revolução religiosa, que
começou na Alemanha e se estendeu pela Suíça, França, Países Baixos, Reino
Unido, Escandinávia e algumas partes do Leste Europeu, como os Países Bálticos
e a Hungria.
Esse amplo movimento religioso levou a uma resposta por
parte da Igreja, a chamada Contrarreforma, iniciada no Concílio de Trento.
Desdobramentos
Em 31 de outubro de 1999, em um gesto histórico, luteranos e
católicos assinaram a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação,
entre a Federação Luterana Mundial e a Igreja Católica. O documento – como
desdobramento das discussões da Reforma – confessava que: “Somente por graça,
na fé na obra salvífica de Cristo, e não por causa de nosso mérito, somos
aceitos por Deus e recebemos o Espírito Santo, que nos renova os corações e nos
capacita e chama para as boas obras”.
Já Bento XVI, o primeiro papa compatriota de Lutero desde a
Reforma, visitou recentemente seu país natal, passando também pela cidade de
Erfurt, onde Lutero iniciou seus estudos ao sacerdócio.
Lá, Ratzinger elogiou em Lutero a “paixão profunda, impulso
da sua vida e de todo o seu caminho” pela “questão de Deus”. E acrescentou que
“o seu pensamento, toda a sua espiritualidade foi totalmente cristocêntrica”.
Para Bento XVI, a “candente pergunta” que norteou a vida de Lutero foi: “Como
me encontro diante de Deus?”. Para o pontífice, essa pergunta deve “tornar-se
de novo, e certamente de uma forma nova, também a nossa pergunta”.
Em 2017, completam-se os 500 anos daquele primeiro gesto de
Lutero, às portas de Wittenberg. Para Walter Altmann, pastor protestante
luterano, moderador do Conselho Mundial de Igrejas – CMI e ex-presidente da
Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, essa grande celebração “deve
ocorrer em espírito ecumênico e na noção de que a Igreja da Reforma deve ser
sempre Igreja em Reforma (semper reformanda)”.
Por isso, continua, “ainda que a celebração recorde o evento
ocorrido 500 anos atrás, seu olhar deve estar voltado à frente, detectando os
desafios comuns que a cristandade como um todo tem diante de si e refletindo
sobre a substância do testemunho evangélico diante deles”.
Para ele, “Lutero jamais pretendeu fundar uma ‘nova’ igreja,
muito menos que um segmento da cristandade se designasse por seu nome, o que
ele rechaçou com veemência, mas que, contudo, por contingência histórica,
aconteceu”.
Nesse sentido, só será fiel ao espírito da Reforma – afirma
– “aquela celebração que refletir a sério tanto as limitações da própria
Reforma quanto a contribuição que ela pode proporcionar não a uma parte, mas ao
conjunto da cristandade”.
(Por Moisés Sbardelotto)
Fonte: http://unisinos.br/blog/ihu/
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