segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Eva e Adão somos nós
Você pode interpretar a história de Adão e Eva como uma descrição de como as coisas aconteceram. Mas pode também interpretar como descrição de como as coisas acontecem. Pode ser uma história que conta como as coisas foram, ou como as coisas são. Pessoalmente, opto pela segunda alternativa. Não me interesso tanto em saber se as coisas foram daquele jeito ou não, não estou preocupado com a literalidade da narrativa, que aliás, me traz mais embaraços que esclarecimentos: houve mesmo um bonequinho de barro? antes de enganar o casal a serpente andava ereta? que fruta era aquela da árvore do conhecimento do bem e do mal, será que está sendo vendida na feira sem que a gente saiba que é ela? quais as coordenadas do jardim do Éden? será que os anjos com espadas de fogo ainda estão por lá?
A história de Adão e Eva visa a comunicar a ótica judaico-cristã da natureza humana, da relação entre Deus e o homem, da dinâmica da sociedade humana. O autor bíblico não está preocupado em descrever o processo mecânico natural da criação. Seu texto não tem pretensão das ciências duras, que tratam das engrenagens do universo natural através da física, por exemplo, mas das ciências do espírito, que têm por objeto a complexidade do humano e suas relações.
Adão e Eva somos nós. Os que pretendemos definir o bem e o mal, o certo e o errado, ambiciosos da autonomia auto-suficiente cuja finalidade não é outra senão a satisfação das nossas vontades e desejos sem fim. Todos os que optamos pela competição em detrimento da cooperação, a violência em lugar do diálogo, o olho por olho contra o perdão, o império do mais forte em vez da gratuidade, as relações de interesses egocêntricos, escusos e difusos em troca da generosidade e da partilha abnegada, a conquista pela força bruta às expensas da paz.
Adão e Eva somos nós. Construtores de jardins de pedra e ferro, edificadores de comunidades muradas, empreendedores prepotentes, espoliadores da riqueza e da beleza dos bichos, do verde, das águas – extrativistas predadores. Todos quantos nos dedicamos à busca do prazer a qualquer preço, que nos contentamos com o máximo de felicidade pessoal em termos de conforto e satisfação individuais, presos nas garras da sensualidade-sensorialidade, pés fincados na terra, carne agarrada à carne, a orgia pluri-glutônica viciante e viciada-anestesiada. Adão e Eva somos nós. Fugitivos da realidade, fantasiosos, vítimas do pensamento mágico, iludidos pela possibilidade da reedição do paraíso perdido sem o concurso do divino. Adão e Eva somos nós. Também damos ouvidos à serpente. Também matamos irmãos. Também nos abandonamos ao hedonismo desvairado. Também queremos apenas nosso nome pronunciado com reverência. Adão e Eva somos nós. E somos também Caim, somos o povo ao redor de Noé, os empreiteiros da torre de babel.
Mas somos também a descendência do filho da mulher, que esmaga a cabeça da serpente. Somos também Abraão. Sobre nós repousa um chamado sagrado: fazer benditas todas as famílias da terra. Gênesis não é um veredito. Gênesis é uma profecia: aponta a injustiça e o juízo, convoca ao arrependimento, suscita a esperança e promete a vitória dAquele cuja vontade é boa, perfeita e agradável: novo céu e nova terra.
Por Ed Rene Kivitz.
Extraído do site: edrenekivitz.com
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
A origem do pecado
"Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta. Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte. Não erreis, meus amados irmãos." (Tiago 1:13)
É comum ouvir por ai de crentes que estão sendo "tentados por Deus" ou que "Deus está lhes provando". Embora haja argumento teológico bem elucidado, não creio nestas afirmações tendo em vista o texto acima citado e a imperativa que diz "Deus é amor" (1 Jo 4:8).
Bem, se Deus é amor como poderia ter prazer ou desejo de que Seus filhos passagem por tentações ou coisas parecidas? Alguém dirá: "Mas até Cristo foi tentado". Bem, é verdade. No entanto se observarmos as escrituras veremos que quem tenta a Jesus é o próprio Satanás, não o nosso Deus. Se obersvarmos a história de Jó, veremos também que é o adversário quem toma iniciativa de assolar a Jó e sua casa.
Não poderia deixar de citar o episódio ocorrido entre Eva e Satanás onde o Maligno a tenta e engana, trazendo sérias consequências a ela Eva, e nós como raça humana. Mas quero chamar sua atenção para um fator que Tiago diz ser fundamental para nossa tentação: o desejo. Há em cada ser humano um desejo de algo, e muito provavelmente, meus irmãos, havia um certo desejo no coração de Eva de se tornar algo ou alguém a altura de Deus, ou se preferem, igual a Ele, pois seria então conhecedora do Bem e do Mal. Interessante não? Mas o mais intrigante mesmo é que naquele mesmo jardim, havia uma árvore que dava um fruto especial chamado Vida Eterna, e pelo o que nos costa é que Dona Eva e Seu Adão, não se interessaram por ele. Abriram mão de uma vida eterna apenas para conhecerem o bem e o mal.
Não poderia deixar de citar o episódio ocorrido entre Eva e Satanás onde o Maligno a tenta e engana, trazendo sérias consequências a ela Eva, e nós como raça humana. Mas quero chamar sua atenção para um fator que Tiago diz ser fundamental para nossa tentação: o desejo. Há em cada ser humano um desejo de algo, e muito provavelmente, meus irmãos, havia um certo desejo no coração de Eva de se tornar algo ou alguém a altura de Deus, ou se preferem, igual a Ele, pois seria então conhecedora do Bem e do Mal. Interessante não? Mas o mais intrigante mesmo é que naquele mesmo jardim, havia uma árvore que dava um fruto especial chamado Vida Eterna, e pelo o que nos costa é que Dona Eva e Seu Adão, não se interessaram por ele. Abriram mão de uma vida eterna apenas para conhecerem o bem e o mal.
Talvez você esteja pensando agora: "Que idiotice", mas será que alguns de nós não temos preferido algumas outras coisas do que a Vida Eterna em Cristo? Pense nisso. Curiosamente nestas passagens acima citadas, percebemos que Deus sempre concede o alívio e refrigério após a tribulação a fim de que seus filhos participem de Seu amor. Porém o que muitos de nós ainda não entendemos é que Deus nos ama de uma maneira profunda e eterna, provando isso em seu plano de glorificação do Seu Nome, redimindo e justificando o ser humano que crê. E que essas leves e momentâneas tribulações estão produzindo para nós um peso de glória, onde em plenitude provaremos da fonte o mais doce amor.
Devemos ter cuidado e dominar nossas emoções e desejos, pois de acordo com a passagem em Tiago, a nossa tentação provém dessas coisas que tem origem em nós, dentro do nosso coração e que se alimentadas com ganância, nós as transformamos em pecado. Já ouviu aquela frase: "tudo em excesso faz mal" pois é, é mais ou menos assim que funciona. Mas como saberei se o que tenho, desejo ou almejo está se enveredando para isso? Bom, basta clamar ao Espírito Santo de Deus e pedir-lhe ajuda; segundo, reanalise sua vida a luz da Palavra de Deus (Bíblia); Ex: Se você tem uma fortuna na conta e quando um necessitado te pede ajuda e você nega; ta na hora de sacar o dinheiro e dar tudo aos pobres, pois seu dinheiro deixou de ser dinheiro e virou Mamon. Se você pode fazer algo que demonstra total desprendimento de coisas, para bem de uma comunidade ou alguém; o faça!
Nosso Mestre nos ensinou a sermos generosos e piedosos uns com os outros, e nós ainda perdemos tempo nos prendendo a "coisas"! Não preciso nem me aprofundar na fala de Cristo que diz "Porque, qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará." (Lucas 9:24).
Está na hora irmãos de resignificarmos as COISAS, e uma delas é essa, devemos amar nosso próximo com o amor que habita em nós o qual se chama Deus. Somos portadores deste Amor Divino, na pessoa do Espírito Santo, que está em nós e a todos conduz a esse amor. Amar o próximo é amar a si mesmo, é amar o imcompreensível, o inabraçável, o ridículo, o esdrúxulo, o solitário em fim o perdido.
Que Deus te encha desse Amor, e que esse Amor faça morada em você.
Em Cristo.
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Sou evangélico, qual o probleme em pular carnaval?
Alguns crentes em Jesus não vêem
nenhum problema no Carnaval. Para eles, se não tiver azaração, pegação,
bebidas e drogas, não existe nenhum mal desfrutar da festa de Momo,
mesmo porque o que importa é a diversão. Segundo estes, o desfile na
televisão é tão bonito! E outra coisa: Que mal tem se alegrar ao som
dos sambas enredos do Rio de Janeiro?
Pois é, o que talvez estes crentes IGNOREM é a história, o significado e a mensagem do carnaval.
Ao estudarmos a origem do Carnaval, vemos que ele foi uma festa instituída para que as pessoas pudessem se regalar com comidas e orgias antes que chegasse o momento de consagração e jejum que precede a Páscoa, a Quaresma. Veja o que a The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997 nos diz a respeito: "O Carnaval é uma celebração que combina desfiles, enfeites, festas folclóricas e comilança que é comumente mantido nos países católicos durante a semana que precede a Quaresma.
Carnaval, provavelmente vem da palavra latina "carnelevarium" (Eliminação da carne), tipicamente começa cedo no ano novo, geralmente no Epifânio, 6 de Janeiro, e termina em Fevereiro com a Mardi Gras na terça-feira da penitência (Shrove Tuesday)." (The Grolier Multimedia Encyclopedia).
"Provavelmente originário dos "Ritos da Fertilidade da Primavera Pagã", o primeiro carnaval que se tem origem foi na Festa de Osiris no Egito, o evento que marca o recuo das águas do Nilo. Os Carnavais alcançaram o pico de distúrbio, desordem, excesso, orgia e desperdício, junto com a Bacchanalia Romana e a Saturnalia.
A Enciclopédia Grolier exemplifica muito bem o que é, na verdade, o carnaval. Uma festa pagã que os católicos tentaram mascarar para parecer com uma festa cristã. Os romanos adoravam comemorar com orgias, bebedices e glutonaria. A Bacchalia era a festa em homenagem a Baco, deus do vinho e da orgia, na Grécia, havia um deus muitíssimo semelhante a Baco, seu nome era Dionísio, da Mitologia Grega Dionísio era o deus do vinho e das orgias. Veja o que The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997 diz a respeito da Bacchanalia, ou Bacanal, Baco e Dionísio e sobre o Festival Dionisiano:
"O Bacanal ou Bacchanalia era o Festival romano que celebrava os três dias de cada ano em honra a Baco, deusdo vinho. Bebedices e orgias sexuais e outros excessos caracterizavam essa comemoração, o que ocasionou sua proibição em 186dC." (The Grolier Multimedia Encyclopedia)
Pois é, no Brasil o carnaval possui a conotação da transgressão. Disfarçado de alegria, a festa de Momo promove promiscuidade sexual, prostituição infantil, violência urbana, consumo de drogas, além de contribuir para a descontrução de valores primordiais ao bem estar da família.
Isto posto tenho plena convicção de que não vale a pena enredar-se as oferendas do Carnaval. Como crentes em Jesus, devemos nos afastar de toda aparência do mal. Participar da festa de Momo significa se deixar levar por valores anti-cristãos e imorais permitindo assim que o adversário de nossas almas semeie em nossos corações conceitos absolutamente antagônicos aos ensinos deixados por Jesus.
Para terminar essa reflexão, compartilho um poema de Jerônimo Gueiros (1880-1954) que foi um ministro presbiteriano nordestino muito conhecido por seu rico ministério, no Recife, e por suas qualificações como literato e apologista da fé cristã. De sua lavra surgiram artigos penetrantes, livros inspiradores e poesias tão belas quanto incisivas e pertinentes aos temas apresentados.
"Carnaval! Empolgante Carnaval!
Festa vibrante!Festa colossal!
Festa de todos: de plebeus e nobres,
Que iguala, nas paixões, ricos e pobres.
Festa de esquecimento do passado,
De térreo paraíso simulado...
Falsa resposta à voz do coração
De quem não frui de Deus comunhão,
Festa da carne em gozo desbragado,
Festa pagã de um povo batizado,
Festa provinda de nações latinas
Que se afastaram das lições divinas.
Ressurreição das velhas bacanais,
Das torpes lupercais, das saturnais
Reino de Momo, de comédias cheio,
De excessos em canções e revolteio,
De esgares, de licença e hilaridade,
De instintos animais em liberdade!
Festa que encerra o culto sedutor
De Vênus impúdica em seu fulgor.
Festa malsã, de Cristo a negação,
Do "Dia do Senhor" profanação.
Carnaval!Estonteante Carnaval!
Desenvoltura quase universal!
Loucura coletiva e transitória,
Deixa do prazer lembrança inglória,
Festa querida, do caminho largo,
De início doce, mas de fim amargo...
Festa de baile e vinho capitoso,
Que morde como ofídio venenoso,
Que tira do homem sério o nobre porte,
E gera o vício, o crime, a dor e a morte.
Carnaval!Vitando Carnaval!
Festa sem Deus!Repúdio da moral!
Festa de intemperança e gasto insano!
Trégua assombrosa do pudor humano,
Que solta a humana besta no seu pasto:
O sensualismo aberto mais nefasto!
Festas que volve às danças do selvagem
E do africano, em fúria, lembra a imagem,
Que confunde licença e liberdade
Nos aconchegos da promiscuidade
Sem lei, sem norma, sem qualquer medida,
Onde a incauta inocência é seduzida,
Onde a mulher, às vezes, perde o siso
E o cavalheiro austero o são juízo;
Onde formosas damas, pela ruas,
Exibem, saltitando, as formas suas,
E no passo convulso e bamboleante,
Em requebros de dança extravagante,
Ouvem, no "frevo" , as chufas e os ditados
Picantes, de homens quase alucinados,
De foliões audazes, perigosos,
Alguns embriagados, furiosos!
Muitos, tirando a máscara, em tais dias,
Revelam, nessas loucas alegrias,
A vida que levaram mascarados
Com a máscara dos homens recatados...
Carnaval!Perigoso Carnaval!
Que grande festa e que tremendo mal!
Brasil gigante, atenção! Atenção!
O Carnaval é festa de pagão!
Repele-o! Que te traz só dor e morte!
Repele-o! E inspira em Deus a tua sorte."
Pense nisso!
Pois é, o que talvez estes crentes IGNOREM é a história, o significado e a mensagem do carnaval.
Ao estudarmos a origem do Carnaval, vemos que ele foi uma festa instituída para que as pessoas pudessem se regalar com comidas e orgias antes que chegasse o momento de consagração e jejum que precede a Páscoa, a Quaresma. Veja o que a The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997 nos diz a respeito: "O Carnaval é uma celebração que combina desfiles, enfeites, festas folclóricas e comilança que é comumente mantido nos países católicos durante a semana que precede a Quaresma.
Carnaval, provavelmente vem da palavra latina "carnelevarium" (Eliminação da carne), tipicamente começa cedo no ano novo, geralmente no Epifânio, 6 de Janeiro, e termina em Fevereiro com a Mardi Gras na terça-feira da penitência (Shrove Tuesday)." (The Grolier Multimedia Encyclopedia).
"Provavelmente originário dos "Ritos da Fertilidade da Primavera Pagã", o primeiro carnaval que se tem origem foi na Festa de Osiris no Egito, o evento que marca o recuo das águas do Nilo. Os Carnavais alcançaram o pico de distúrbio, desordem, excesso, orgia e desperdício, junto com a Bacchanalia Romana e a Saturnalia.
A Enciclopédia Grolier exemplifica muito bem o que é, na verdade, o carnaval. Uma festa pagã que os católicos tentaram mascarar para parecer com uma festa cristã. Os romanos adoravam comemorar com orgias, bebedices e glutonaria. A Bacchalia era a festa em homenagem a Baco, deus do vinho e da orgia, na Grécia, havia um deus muitíssimo semelhante a Baco, seu nome era Dionísio, da Mitologia Grega Dionísio era o deus do vinho e das orgias. Veja o que The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997 diz a respeito da Bacchanalia, ou Bacanal, Baco e Dionísio e sobre o Festival Dionisiano:
"O Bacanal ou Bacchanalia era o Festival romano que celebrava os três dias de cada ano em honra a Baco, deusdo vinho. Bebedices e orgias sexuais e outros excessos caracterizavam essa comemoração, o que ocasionou sua proibição em 186dC." (The Grolier Multimedia Encyclopedia)
Pois é, no Brasil o carnaval possui a conotação da transgressão. Disfarçado de alegria, a festa de Momo promove promiscuidade sexual, prostituição infantil, violência urbana, consumo de drogas, além de contribuir para a descontrução de valores primordiais ao bem estar da família.
Isto posto tenho plena convicção de que não vale a pena enredar-se as oferendas do Carnaval. Como crentes em Jesus, devemos nos afastar de toda aparência do mal. Participar da festa de Momo significa se deixar levar por valores anti-cristãos e imorais permitindo assim que o adversário de nossas almas semeie em nossos corações conceitos absolutamente antagônicos aos ensinos deixados por Jesus.
Para terminar essa reflexão, compartilho um poema de Jerônimo Gueiros (1880-1954) que foi um ministro presbiteriano nordestino muito conhecido por seu rico ministério, no Recife, e por suas qualificações como literato e apologista da fé cristã. De sua lavra surgiram artigos penetrantes, livros inspiradores e poesias tão belas quanto incisivas e pertinentes aos temas apresentados.
"Carnaval! Empolgante Carnaval!
Festa vibrante!Festa colossal!
Festa de todos: de plebeus e nobres,
Que iguala, nas paixões, ricos e pobres.
Festa de esquecimento do passado,
De térreo paraíso simulado...
Falsa resposta à voz do coração
De quem não frui de Deus comunhão,
Festa da carne em gozo desbragado,
Festa pagã de um povo batizado,
Festa provinda de nações latinas
Que se afastaram das lições divinas.
Ressurreição das velhas bacanais,
Das torpes lupercais, das saturnais
Reino de Momo, de comédias cheio,
De excessos em canções e revolteio,
De esgares, de licença e hilaridade,
De instintos animais em liberdade!
Festa que encerra o culto sedutor
De Vênus impúdica em seu fulgor.
Festa malsã, de Cristo a negação,
Do "Dia do Senhor" profanação.
Carnaval!Estonteante Carnaval!
Desenvoltura quase universal!
Loucura coletiva e transitória,
Deixa do prazer lembrança inglória,
Festa querida, do caminho largo,
De início doce, mas de fim amargo...
Festa de baile e vinho capitoso,
Que morde como ofídio venenoso,
Que tira do homem sério o nobre porte,
E gera o vício, o crime, a dor e a morte.
Carnaval!Vitando Carnaval!
Festa sem Deus!Repúdio da moral!
Festa de intemperança e gasto insano!
Trégua assombrosa do pudor humano,
Que solta a humana besta no seu pasto:
O sensualismo aberto mais nefasto!
Festas que volve às danças do selvagem
E do africano, em fúria, lembra a imagem,
Que confunde licença e liberdade
Nos aconchegos da promiscuidade
Sem lei, sem norma, sem qualquer medida,
Onde a incauta inocência é seduzida,
Onde a mulher, às vezes, perde o siso
E o cavalheiro austero o são juízo;
Onde formosas damas, pela ruas,
Exibem, saltitando, as formas suas,
E no passo convulso e bamboleante,
Em requebros de dança extravagante,
Ouvem, no "frevo" , as chufas e os ditados
Picantes, de homens quase alucinados,
De foliões audazes, perigosos,
Alguns embriagados, furiosos!
Muitos, tirando a máscara, em tais dias,
Revelam, nessas loucas alegrias,
A vida que levaram mascarados
Com a máscara dos homens recatados...
Carnaval!Perigoso Carnaval!
Que grande festa e que tremendo mal!
Brasil gigante, atenção! Atenção!
O Carnaval é festa de pagão!
Repele-o! Que te traz só dor e morte!
Repele-o! E inspira em Deus a tua sorte."
Pense nisso!
Renato Vargens
(extraído do site: pulpitocristao.blogspot.com)
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Atravessando o sofrimento.
Por Ariovaldo Ramos.
Sofrimento é o intervalo possível e inevitável entre a aniquilação merecida e a redenção graciosa.
Tudo o que existe, existe em Deus (At 17.28), quando rompemos com Deus perdemos o local da existência.
Nós deveríamos ter deixado de existir. Deus, porém, não o permitiu, manteve-nos.
Para
isso arcou com o custo que a justiça impunha: esvaziou-se no Deus
Filho. E foi o primeiro movimento da história da redenção, antes da
criação de qualquer criatura. (1Pe 1.18-20)
O esvaziamento é a morte de um Deus: não perde a sua natureza, mas abre mão de suas prerrogativas divinas. (Fil 2.5-8)
A
cruz, na história humana, é a manifestação, possível, desse
esvaziamento que, satisfazendo o princípio da justiça, permitiu que a
Trindade atuasse por graça.
O
cumprimento do principio de justiça não poderia ser relativizado, sob
pena de perda de credibilidade por parte de Deus. (Ez 18.20)
Todo mau uso da liberdade impõe uma consequência. Para que a criação não desaparecesse o Deus Filho se esvaziou.
Quando,
ao romper com Deus, não fomos aniquilados, nos tornamos malvados,
porque ao dizer não a Deus, dissemos não a tudo o que Deus disse de nós:
que seríamos sua imagem e semelhança. O mal que, antes, só podia ser
pensado como tese, agora tinha manifestação histórica.
Se
a maldade, porém, se tornasse o tom determinante de nossa história,
nossa sobrevivência estaria ameaçada da mesma forma, há um limite para a
expansão do mal (Gn 6.5-7; 15.16).
Deus,
então, por graça, empresta as suas qualidades a nós, o que garante
sobrevida com qualidade mínima, para que possamos sobreviver na nova
história, enquanto Deus faz o que tem de ser feito para salvar a nossa
história e a nós, nela. (At 14.17)
E nos tornamos paradoxos (Rm 7), carregamos o bem e o mal em nós. E o paradoxo é estado de sofrimento.
Os opostos deveriam se aniquilar, mas, a graça divina não o permite.
O
esvaziamento do Deus Filho, num primeiro momento, pela deflagração da
graça, permitiu o desaceleramento do caos, estabelecendo o paradoxo em
toda a criação. E o paradoxo é estado de sofrimento.
Deus,
aliás, criou um mundo pronto para o paradoxo, onde convivem o bem e o
mal, o dia e a noite, a vida e a morte. Um mundo cuja estabilidade está,
portanto, na ação graciosa da Trindade. (Hb 1.3)
Deus criou um mundo temporário para o intervalo do sofrimento, que é, por definição, temporário.
Um mundo temporário, porque o mundo definitivo só tem bem, vida, luz e bem-aventurança. (Ap 21.1; 22.1-5)
Deus,
de várias formas falou pelos pais e pelos profetas e, finalmente, pelo
Filho, ensinando-nos a conviver nesse e com esse intervalo, de modo a
torná-lo menos insuportável. A chave é o amor como moto de tudo e para
todos os atos.
A
graça, com que Deus socorre a todas as criaturas, desacelera a volta
para o caos, para onde tudo teria de ir imediatamente após a ruptura
humana. O aniquilamento dá lugar ao sofrimento, resultado da ação
restauradora dessa graça, que estabelece o paradoxo pela infusão de vida
num ambiente que deveria ser só morte, se a morte pudesse ser, e que,
também, torna possível passar por esse intervalo: o sofrimento.
O esvaziamento do Deus Filho, que, num primeiro momento, permitiu o desaceleramento do caos, tornou o caos uma impossibilidade.
Na
ressurreição, o Filho do Homem teve comprovada a eficácia do
esvaziamento do Deus Filho. A ressurreição é a comprovação da vitória
sobre o aniquilamento e o caos. (1 Co 15.54,55)
Na ascensão o Filho de Deus retomou (o que nunca perdera na essência) sua condição de Deus Filho. (Jo 17.4,5)
Tudo estava consumado e o fim da história é a Vida!
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Festa Rave Gospel...(ai ai ai )
Em nome da contextualização e da necessidade de se
modernizar a propagação da Palavra de Deus, tem sido comum por parte
de alguns pastores e líderes evangélicos a utilização de estratégias
diferenciadas na “evangelização”.
Renato Vargens
Extraído do blog: renatovargens.blospot.com.br
A cada instante, movidos por poderosas
revelações, novas e mirabolantes estratégias tem sido criadas na
expectativa de arrebanhar para os apriscos da fé, um número cada vez
mais significativo de jovens. E é pensando assim que eventos dos mais
estranhos possíveis têm sido criados por parte da liderança evangélica
neste país, como por exemplo, o aparecimento de boates e discotecas
gospel. Aliás, você já reparou que nós evangélicos temos a facilidade
de transformar tudo em gospel? Para tais pastores, boates e discotecas
tornaram-se “álibis” indispensáveis para se pregar “as boas novas” de
Cristo Jesus. Na verdade, neste Brasil tupiniquim, cada vez mais em
nome de uma liberdade cristã, os jovens abandonam a palavra e o
discipulado bíblico em detrimento às festas e eventos que celebram
efusivamente o hedonismo exacerbado de um tempo pós-moderno.
Para piorar as coisas, tais evangélicos criaram a RAVE GOSPEL. Confesso que fico estupefato com a capacidade evangélica de elucubrar sandices. Sem sombra de dúvidas isso é O FIM DA PICADA. Ouso afirmar que do jeito que a coisa anda daqui a pouco teremos um tipo de ecstasy gospel.
Prezados, confesso que estou absolutamente
perplexo e preocupado com os rumos da igreja evangélica brasileira.
Isto porque, em detrimento do “novo” têm-se optado por um caminho onde
se negocia o que não se pode negociar. Cadê o compromisso com a Santa
Palavra de Deus? Onde está o imperioso desejo de se fazer à vontade do
Senhor em todos os momentos da vida? Por que será que temos coxeado
entre dois pensamentos?
Pois é, isto posto, chego a conclusão que mais do que nunca a igreja evangélica brasileira precisa de uma nova reforma.
Com lágrimas nos olhos,
Renato Vargens
Extraído do blog: renatovargens.blospot.com.br
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Teodicéia
Por Ed Rene Kivitz
Acho que Epicuro foi quem formulou a questão a respeito da relação entre a onipotência e a bondade de Deus. A coisa é mais ou menos assim: se Deus existe, ele é todo poderoso e é bom, pois não fosse todo-poderoso, não seria Deus, e não fosse bom, não seria digno de ser Deus. Mas se Deus é todo-poderoso e bom, então como explicar tanto sofrimento no mundo? Caso Deus seja todo-poderoso, então ele pode evitar o sofrimento, e se não o faz, é porque não é bom, e nesse caso, não é digno de ser Deus. Mas caso seja bom e queira evitar o sofrimento, e não o faz porque não consegue, então ele não é todo-poderoso, e nesse caso, também não é Deus. Escrevendo sobre a Tsunami que abalou a Ásia, o Frei Leonardo Boff resume: “Se Deus é onipotente, pode tudo. Se pode tudo porque não evitou o maremoto? Se não o evitou, é sinal de que ou não é onipotente ou não é bom”.
Considerando, portanto, que não é possível que Deus seja ao mesmo tempo bom e todo-poderoso, a lógica é que Deus é uma impossibilidade filosófica, ou se preferir, a idéia de Deus não faz sentido, e o melhor que temos a fazer é admitir que Deus não existe.
Parece que estamos diante de um dilema insolúvel. Mas Einstein nos deu uma dica preciosa. Disse que quando chegamos a um “problema insolúvel”, devemos mudar o paradigma de pensamento que o criou. O paradigma de pensamento que considera o binômio “onipotência/bondade” como ponto de partida para pensar o caráter de Deus nos deixa em apuros. Existiria, entretanto, outro paradigma de pensamento? Será que as palavras “onipotência” e “bondade” são as que melhor resumem o dilema de Deus diante do mal e do sofrimento do inocente? Há outras palavras que podem ser colocadas neste quebra-cabeça?
Este problema foi enfrentado por São Paulo, apóstolo, em seu debate com os filósofos gregos de seu tempo. A mensagem cristã era muito simples: Deus veio ao mundo e morreu crucificado. Pior do que isso: Deus foi crucificado num “jogo de empurra” entre judeus e romanos, isto é, diferentemente dos outros deuses, o Deus cristão foi morto não por deuses mais poderosos, mas por homens. Sendo Deus, jamais poderia ser morto por mãos humanas, e sendo o Deus onipotente, jamais poderia nem mesmo ser morto. Paulo, apóstolo, estava, portanto, diante de um dilema semelhante ao proposto por Epicuro: Deus era uma impossibilidade filosófica.
Foi então que os apóstolos surgiram com uma resposta tão genial que os cristãos acreditamos que foi soprada pelo Espírito Santo: antes de vir ao mundo ao encontro dos homens, Deus se esvaziou da sua onipotência[i], isto é, abriu mão do exercício de sua onipotência, e por amor[ii], deixou-se matar por eles[iii]. (Eu disse que “Deus abriu mão do exercício de sua onipotência”, bem diferente de “Deus abriu mão de sua onipotência”).
O apóstolo Paulo admitia que não era possível pensar em Deus sem considerar o binômio bondade/onipotência. Optou pela palavra amor, assim como o apóstolo João, que afirmou “Deus é amor”[iv]. Jesus de Nazaré foi Deus encarnado na forma de Amor, e não Deus encarnado na forma de Onipotência. Os cristão não dizemos “Deus é poder”, dizemos “Deus é amor”.
Isso faz todo o sentido. Um Deus que viesse ao encontro das pessoas em trajes onipotentes chegaria para se impor e reivindicar obediência irrestrita, impressionando pela sua majestade e força sem iguais. Jung Mo Sung adverte que “a contrapartida do poder é a obediência, enquanto a contrapartida do amor é a liberdade”. Também assim pensou o apóstolo Paulo, ao afirmar que o que constrange as pessoas a viver para Deus é o amor de Deus (demonstrado na morte de Jesus na cruz)[v]. Não é o poder de Deus que cativa o coração das gentes, mas sim o amor de Deus.
Na verdade, “Deus não tinha escolha”. Ao decidir criar o ser humano à sua imagem e semelhança, deveria criá-lo livre. Desejando um relacionamento com o ser humano, deveria dar ao ser humano a liberdade de responder voluntariamente ao seu amor, sob pena de ser um tirano que arrasta para sua alcova uma donzela contrariada. Somente o amor resolveria esta equação, pois somente o amor possibilita a liberdade para que o outro possa inclusive rejeitar o amor que se lhe quer dar.
André Comte-Sponville é um ateu confesso (sei que vou levar pedradas) que discorre a respeito do amor divino como poucos que já li. Acredita que o amor divino é um ato de diminuição, uma fraqueza, uma renúncia. Usa os argumentos de Simone Weil: “a criação é da parte de Deus um ato não de expansão de si, mas de retirada, de renúncia. Deus e todas as criaturas é menos do que Deus sozinho. Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou de si uma parte do ser. Esvaziou-se já nesse ato de sua divindade. É por isso que João diz que o Cordeiro foi degolado já na constituição do mundo. Deus permitiu que existissem coisas diferentes Dele e valendo infinitamente menos que Ele. Pelo ato criador negou a si mesmo, como Cristo nos prescreveu nos negarmos a nós mesmos. Deus negou-se em nosso favor para nos dar a possibilidade de nos negar por Ele. As religiões que conceberam essa renúncia, essa distância voluntária, esse apagamento voluntário de Deus, sua ausência aparente e sua presença secreta aqui embaixo, essas religiões são a verdadeira religião, a tradução em diferentes línguas da grande Revelação. As religiões que representam a divindade como comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo são falsas. Mesmo que monoteístas, são idólatras” [vi].
Você já imagina onde quero chegar. Isso mesmo, entre a onipotência e a bondade de Deus existe a liberdade do homem, e o compromisso de Deus em respeitar esta liberdade. Isso ajuda a entender porque existe tanto sofrimento no mundo. O mal não procede de Deus e não é promovido ou determinado por Deus. O mal é conseqüência inevitável da liberdade humana, que teima em dar as costas para Deus e tentar fazer o mundo acontecer à sua própria maneira. Diante do mal e do sofrimento, o Deus com os homens, encarnado em Amor, também sofre, se compadece, tem suas entranhas movidas de compaixão[vii]. E morre. O Deus Amor encarnado em Jesus de Nazaré é assim, entre matar e morrer, prefere morrer.
Mas você poderia perguntar por que razão Deus não acaba com o mal. Isso é simples: Deus não acaba com o mal porque o mal não existe, o que existe é o malvado. O mal não é uma entidade ao lado de Deus. O mal é o resultado de uma ação humana em afastar-se do Deus, sumo bem. O monoteísmo cristão afirma que há um só Deus, e que o mal é a privação da presença de Deus. Os cristãos não somos dualistas que postulamos a existência do bem e do mal. O mal é apenas a ausência do bem. Por isso, o mal não existe, o que existe é o malvado, aquele que faz surgir o mal porque se afasta de Deus, o supremo e único bem.
Ariovaldo Ramos me ensinou assim, e completou dizendo que “para acabar com o mal, Deus teria que acabar com o malvado”. Mas, sendo amor, entre acabar com o malvado e redimir o malvado, Deus escolheu sofrer enquanto redime, para não negar a si mesmo destruindo o objeto do seu amor. Por esta razão Deus “se diminui”, esvazia-se de sua onipotência, abre mão de se relacionar em termos de onipotência-obediência, e se relaciona com a humanidade com base no amor, fazendo nascer o sol sobre justos e injustos[viii], e mostrando sua bondade, dando chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo sustento com fartura e um coração cheio de alegria a todos os homens[ix].
Este problema foi enfrentado por São Paulo, apóstolo, em seu debate com os filósofos gregos de seu tempo. A mensagem cristã era muito simples: Deus veio ao mundo e morreu crucificado. Pior do que isso: Deus foi crucificado num “jogo de empurra” entre judeus e romanos, isto é, diferentemente dos outros deuses, o Deus cristão foi morto não por deuses mais poderosos, mas por homens. Sendo Deus, jamais poderia ser morto por mãos humanas, e sendo o Deus onipotente, jamais poderia nem mesmo ser morto. Paulo, apóstolo, estava, portanto, diante de um dilema semelhante ao proposto por Epicuro: Deus era uma impossibilidade filosófica.
Foi então que os apóstolos surgiram com uma resposta tão genial que os cristãos acreditamos que foi soprada pelo Espírito Santo: antes de vir ao mundo ao encontro dos homens, Deus se esvaziou da sua onipotência[i], isto é, abriu mão do exercício de sua onipotência, e por amor[ii], deixou-se matar por eles[iii]. (Eu disse que “Deus abriu mão do exercício de sua onipotência”, bem diferente de “Deus abriu mão de sua onipotência”).
O apóstolo Paulo admitia que não era possível pensar em Deus sem considerar o binômio bondade/onipotência. Optou pela palavra amor, assim como o apóstolo João, que afirmou “Deus é amor”[iv]. Jesus de Nazaré foi Deus encarnado na forma de Amor, e não Deus encarnado na forma de Onipotência. Os cristão não dizemos “Deus é poder”, dizemos “Deus é amor”.
Isso faz todo o sentido. Um Deus que viesse ao encontro das pessoas em trajes onipotentes chegaria para se impor e reivindicar obediência irrestrita, impressionando pela sua majestade e força sem iguais. Jung Mo Sung adverte que “a contrapartida do poder é a obediência, enquanto a contrapartida do amor é a liberdade”. Também assim pensou o apóstolo Paulo, ao afirmar que o que constrange as pessoas a viver para Deus é o amor de Deus (demonstrado na morte de Jesus na cruz)[v]. Não é o poder de Deus que cativa o coração das gentes, mas sim o amor de Deus.
Na verdade, “Deus não tinha escolha”. Ao decidir criar o ser humano à sua imagem e semelhança, deveria criá-lo livre. Desejando um relacionamento com o ser humano, deveria dar ao ser humano a liberdade de responder voluntariamente ao seu amor, sob pena de ser um tirano que arrasta para sua alcova uma donzela contrariada. Somente o amor resolveria esta equação, pois somente o amor possibilita a liberdade para que o outro possa inclusive rejeitar o amor que se lhe quer dar.
André Comte-Sponville é um ateu confesso (sei que vou levar pedradas) que discorre a respeito do amor divino como poucos que já li. Acredita que o amor divino é um ato de diminuição, uma fraqueza, uma renúncia. Usa os argumentos de Simone Weil: “a criação é da parte de Deus um ato não de expansão de si, mas de retirada, de renúncia. Deus e todas as criaturas é menos do que Deus sozinho. Deus aceitou essa diminuição. Esvaziou de si uma parte do ser. Esvaziou-se já nesse ato de sua divindade. É por isso que João diz que o Cordeiro foi degolado já na constituição do mundo. Deus permitiu que existissem coisas diferentes Dele e valendo infinitamente menos que Ele. Pelo ato criador negou a si mesmo, como Cristo nos prescreveu nos negarmos a nós mesmos. Deus negou-se em nosso favor para nos dar a possibilidade de nos negar por Ele. As religiões que conceberam essa renúncia, essa distância voluntária, esse apagamento voluntário de Deus, sua ausência aparente e sua presença secreta aqui embaixo, essas religiões são a verdadeira religião, a tradução em diferentes línguas da grande Revelação. As religiões que representam a divindade como comandando em toda parte onde tenha o poder de fazê-lo são falsas. Mesmo que monoteístas, são idólatras” [vi].
Você já imagina onde quero chegar. Isso mesmo, entre a onipotência e a bondade de Deus existe a liberdade do homem, e o compromisso de Deus em respeitar esta liberdade. Isso ajuda a entender porque existe tanto sofrimento no mundo. O mal não procede de Deus e não é promovido ou determinado por Deus. O mal é conseqüência inevitável da liberdade humana, que teima em dar as costas para Deus e tentar fazer o mundo acontecer à sua própria maneira. Diante do mal e do sofrimento, o Deus com os homens, encarnado em Amor, também sofre, se compadece, tem suas entranhas movidas de compaixão[vii]. E morre. O Deus Amor encarnado em Jesus de Nazaré é assim, entre matar e morrer, prefere morrer.
Mas você poderia perguntar por que razão Deus não acaba com o mal. Isso é simples: Deus não acaba com o mal porque o mal não existe, o que existe é o malvado. O mal não é uma entidade ao lado de Deus. O mal é o resultado de uma ação humana em afastar-se do Deus, sumo bem. O monoteísmo cristão afirma que há um só Deus, e que o mal é a privação da presença de Deus. Os cristãos não somos dualistas que postulamos a existência do bem e do mal. O mal é apenas a ausência do bem. Por isso, o mal não existe, o que existe é o malvado, aquele que faz surgir o mal porque se afasta de Deus, o supremo e único bem.
Ariovaldo Ramos me ensinou assim, e completou dizendo que “para acabar com o mal, Deus teria que acabar com o malvado”. Mas, sendo amor, entre acabar com o malvado e redimir o malvado, Deus escolheu sofrer enquanto redime, para não negar a si mesmo destruindo o objeto do seu amor. Por esta razão Deus “se diminui”, esvazia-se de sua onipotência, abre mão de se relacionar em termos de onipotência-obediência, e se relaciona com a humanidade com base no amor, fazendo nascer o sol sobre justos e injustos[viii], e mostrando sua bondade, dando chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo sustento com fartura e um coração cheio de alegria a todos os homens[ix].
A equação amor e liberdade na relação entre Deus e o homem resulta um escândalo: um Deus que sofre por amor. E quando Deus sofre, o homem sofre. Ou, na verdade, Deus sofre porque o homem sofre, isto é, Deus sofre porque ama o homem que sofre.
____________________
[i] Carta aos Filipenses 2.6-8
[ii] Evangelho de João 3.16
[iii] Atos dos Apóstolos 2.23
[iv] Primeira Carta de João 4.7
[v] 2Coríntios 5.14,15
[vi] Comte-Sponville, André, Pequeno tratado das grandes virtudes, São Paulo: Martins Fontes, 1995, Capítulo 18: Amor.
[vii] Evangelho de São Mateus 9.36; 14.14
[viii] Evangelho de São Mateus 5.44,45
[ix] Atos dos Apóstolos 14.17
[i] Carta aos Filipenses 2.6-8
[ii] Evangelho de João 3.16
[iii] Atos dos Apóstolos 2.23
[iv] Primeira Carta de João 4.7
[v] 2Coríntios 5.14,15
[vi] Comte-Sponville, André, Pequeno tratado das grandes virtudes, São Paulo: Martins Fontes, 1995, Capítulo 18: Amor.
[vii] Evangelho de São Mateus 9.36; 14.14
[viii] Evangelho de São Mateus 5.44,45
[ix] Atos dos Apóstolos 14.17
Extraído do site: http://www.edrenekivitz.com.br/
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Cristianismo de entretenimento!
A igreja pode
enfrentar a apatia e o materialismo satisfazendo o apetite das pessoas
por entretenimento? Evidentemente, muitas pessoas das igrejas pensam
assim, enquanto uma igreja após outra salta para o vagão dos cultos de
entretenimento.
Uma tendência inquietante está levando muitas igrejas ortodoxas a se afastarem das prioridades bíblicas.
O que eles querem
Os templos das igrejas estão sendo construídos no estilo de teatros. Ao invés de no púlpito, a ênfase se concentra no palco. Alguns templos possuem grandes plataformas, que giram ou sobem e descem, com luzes coloridas e poderosas mesas de som.
Os pastores espirituais estão dando lugar aos especialistas em comunicação, aos consultores de programação, aos diretores de palco, aos peritos em efeitos especiais e aos coreógrafos.
O objetivo é dar ao auditório aquilo que eles desejam. Moldar o culto da igreja aos desejos dos freqüentadores atrai muitas pessoas.
Como resultado disso, os pastores se tornam mais parecidos com políticos do que com verdadeiros pastores, mais preocupados em atrair as pessoas do que em guiar e edificar o rebanho que Deus lhes confiou.
A congregação recebe um entretenimento profissional, em que a dramatização, os ritmos populares e, talvez, um sermão de sugestões sutis e de aceitação imediata constituem o culto de adoração. Mas a ênfase concentra-se no entretenimento e não na adoração.
A idéia fundamental
O que fundamenta esta tendência é a idéia de que a igreja tem de “vender” o evangelho aos incrédulos — a igreja compete por consumidores, no mesmo nível dos grandes produtos.
Mais e mais igrejas estão dependendo de técnicas de vendas para se oferecerem ao mundo.
Essa filosofia resulta de péssima teologia. Presume que, se você colocar o evangelho na embalagem cor-reta, as pessoas serão salvas. Essa maneira de lidar com o evangelho se fundamenta na teologia arminiana. Vê a conversão como nada mais do que um ato da vontade humana. Seu objetivo é uma decisão instantânea, ao invés de uma mudança radical do coração.
Além disso, toda esta corrupção do evangelho, nos moldes da Avenida Madison, presume que os cultos da igreja têm o objetivo primário de recrutar os incrédulos. Algumas igrejas abandonaram a adoração no sentido bíblico.
Outras relegaram a pregação convencional aos cultos de grupos pequenos em uma noite da semana. Mas isso se afasta do principal ensino de Hebreus 10.24-25: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos”.
O verdadeiro padrão
Atos 2.42 nos mostra o padrão que a igreja primitiva seguia, quando os crentes se reuniam: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”.
Devemos observar que as prioridades da igreja eram adorar a Deus e edificar os irmãos. A igreja se reunia para adoração e edificação — e se espalhava para evangelizar o mundo. Nosso Senhor comissionou seus discípulos a evangelizar, utilizando as seguintes palavras: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19). Ele deixou claro que sua igreja não tem de ficar esperando (ou convidando) o mundo para vir às suas reuniões, e sim que ela tem de ir ao mundo.
Essa é uma responsabilidade de todo crente. Receio que uma abordagem cuja ênfase se concentra em uma apresentação agradável do evangelho, no templo da igreja, absolve muitos crentes de sua obrigação pessoal de ser luz no mundo (Mateus 5.16).
Estilo de vida
A sociedade está repleta de pessoas que querem o que querem quando o querem. Elas vivem em seu próprio estilo de vida, recreação e entretenimento. Quando as igrejas apelam a esses desejos egoístas, elas simplesmente põem lenha nesse fogo e ocultam a verdadeira piedade.
Algumas dessas igrejas estão crescendo em expoentes elevados, enquanto outras que não utilizam o entretenimento estão lutando. Muitos líderes de igrejas desejam crescimento numérico em suas igrejas, por isso, estão abraçando a filosofia de “entretenimento em primeiro lugar”.
Considere o que esta filosofia causa à própria mensagem do evangelho. Alguns afirmam que, se os princípios bíblicos são apresentados, não devemos nos preocupar com os meios pelos quais eles são apresentados. Isto é ilógico.
Por que não realizarmos um verdadeiro show de entretenimento? Um atirador de facas tatuado fazendo malabarismo com serras de aço se apresentaria, enquanto alguém gritaria versículos bíblicos. Isso atrairia uma multidão, você não acha?
É um cenário bizarro, mas é um cenário que ilustra como os meios podem baratear e corromper a mensagem.
Tornando vulgar
Infelizmente, este cenário não é muito diferente do que algumas igrejas estão fazendo. Roqueiros punk, ventríloquos, palhaços e artistas famosos têm ocupado o lugar do pregador — e estão degradando o evangelho.
Creio que podemos ser inovadores e criativos na maneira como apresentamos o evangelho, mas temos de ser cuidadosos em harmonizar nossos métodos com a profunda verdade espiritual que procuramos transmitir. É muito fácil vulgarizarmos a mensagem sagrada.
Não se apresse em abraçar as tendências das super-igrejas de alta tecnologia. E não zombe da adoração e da pregação convencionais. Não precisamos de abordagens astuciosas para que tenhamos pessoas salvas (1 Coríntios 1.21).
Precisamos tão-somente retornar à pregação da verdade e plantar a semente. Se formos fiéis nisso, o solo que Deus preparou frutificará.
Por: John MacArhtur
Fonte: [ Plugados com Deus ]
Uma tendência inquietante está levando muitas igrejas ortodoxas a se afastarem das prioridades bíblicas.
O que eles querem
Os templos das igrejas estão sendo construídos no estilo de teatros. Ao invés de no púlpito, a ênfase se concentra no palco. Alguns templos possuem grandes plataformas, que giram ou sobem e descem, com luzes coloridas e poderosas mesas de som.
Os pastores espirituais estão dando lugar aos especialistas em comunicação, aos consultores de programação, aos diretores de palco, aos peritos em efeitos especiais e aos coreógrafos.
O objetivo é dar ao auditório aquilo que eles desejam. Moldar o culto da igreja aos desejos dos freqüentadores atrai muitas pessoas.
Como resultado disso, os pastores se tornam mais parecidos com políticos do que com verdadeiros pastores, mais preocupados em atrair as pessoas do que em guiar e edificar o rebanho que Deus lhes confiou.
A congregação recebe um entretenimento profissional, em que a dramatização, os ritmos populares e, talvez, um sermão de sugestões sutis e de aceitação imediata constituem o culto de adoração. Mas a ênfase concentra-se no entretenimento e não na adoração.
A idéia fundamental
O que fundamenta esta tendência é a idéia de que a igreja tem de “vender” o evangelho aos incrédulos — a igreja compete por consumidores, no mesmo nível dos grandes produtos.
Mais e mais igrejas estão dependendo de técnicas de vendas para se oferecerem ao mundo.
Essa filosofia resulta de péssima teologia. Presume que, se você colocar o evangelho na embalagem cor-reta, as pessoas serão salvas. Essa maneira de lidar com o evangelho se fundamenta na teologia arminiana. Vê a conversão como nada mais do que um ato da vontade humana. Seu objetivo é uma decisão instantânea, ao invés de uma mudança radical do coração.
Além disso, toda esta corrupção do evangelho, nos moldes da Avenida Madison, presume que os cultos da igreja têm o objetivo primário de recrutar os incrédulos. Algumas igrejas abandonaram a adoração no sentido bíblico.
Outras relegaram a pregação convencional aos cultos de grupos pequenos em uma noite da semana. Mas isso se afasta do principal ensino de Hebreus 10.24-25: “Consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos”.
O verdadeiro padrão
Atos 2.42 nos mostra o padrão que a igreja primitiva seguia, quando os crentes se reuniam: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”.
Devemos observar que as prioridades da igreja eram adorar a Deus e edificar os irmãos. A igreja se reunia para adoração e edificação — e se espalhava para evangelizar o mundo. Nosso Senhor comissionou seus discípulos a evangelizar, utilizando as seguintes palavras: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações” (Mateus 28.19). Ele deixou claro que sua igreja não tem de ficar esperando (ou convidando) o mundo para vir às suas reuniões, e sim que ela tem de ir ao mundo.
Essa é uma responsabilidade de todo crente. Receio que uma abordagem cuja ênfase se concentra em uma apresentação agradável do evangelho, no templo da igreja, absolve muitos crentes de sua obrigação pessoal de ser luz no mundo (Mateus 5.16).
Estilo de vida
A sociedade está repleta de pessoas que querem o que querem quando o querem. Elas vivem em seu próprio estilo de vida, recreação e entretenimento. Quando as igrejas apelam a esses desejos egoístas, elas simplesmente põem lenha nesse fogo e ocultam a verdadeira piedade.
Algumas dessas igrejas estão crescendo em expoentes elevados, enquanto outras que não utilizam o entretenimento estão lutando. Muitos líderes de igrejas desejam crescimento numérico em suas igrejas, por isso, estão abraçando a filosofia de “entretenimento em primeiro lugar”.
Considere o que esta filosofia causa à própria mensagem do evangelho. Alguns afirmam que, se os princípios bíblicos são apresentados, não devemos nos preocupar com os meios pelos quais eles são apresentados. Isto é ilógico.
Por que não realizarmos um verdadeiro show de entretenimento? Um atirador de facas tatuado fazendo malabarismo com serras de aço se apresentaria, enquanto alguém gritaria versículos bíblicos. Isso atrairia uma multidão, você não acha?
É um cenário bizarro, mas é um cenário que ilustra como os meios podem baratear e corromper a mensagem.
Tornando vulgar
Infelizmente, este cenário não é muito diferente do que algumas igrejas estão fazendo. Roqueiros punk, ventríloquos, palhaços e artistas famosos têm ocupado o lugar do pregador — e estão degradando o evangelho.
Creio que podemos ser inovadores e criativos na maneira como apresentamos o evangelho, mas temos de ser cuidadosos em harmonizar nossos métodos com a profunda verdade espiritual que procuramos transmitir. É muito fácil vulgarizarmos a mensagem sagrada.
Não se apresse em abraçar as tendências das super-igrejas de alta tecnologia. E não zombe da adoração e da pregação convencionais. Não precisamos de abordagens astuciosas para que tenhamos pessoas salvas (1 Coríntios 1.21).
Precisamos tão-somente retornar à pregação da verdade e plantar a semente. Se formos fiéis nisso, o solo que Deus preparou frutificará.
Por: John MacArhtur
Fonte: [ Plugados com Deus ]
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Show Gospel
No
palco, o cantor de rap se esgoela: Vocês estão sentindo a presença de
Deus? Então, digam amém!!. Ao meu lado, um casal de namorados (espero)
desmentindo a mais famosa lei da física, além da presença de Deus, deve
está sentindo outra coisa mais concreta. Este é o grande impasse da
industria gospel: é show ou é louvor? É diversão ou é adoração? E uma
atividade espiritual ou carnal? São compatíveis ou antagônicas? Poderiam
ser simultâneas e harmônicas ou simultâneas e contraditórias?
Didaticamente,
vamos tematizar estas possibilidades dentro das seguintes hipóteses: l.
Não é diversão, é adoração; 2. Não é adoração, é diversão; 3. Teologia
do igual mas separado ou junto mais diferente.
1. Não é diversão, é adoração.
Louvor
pode muito bem ser sintetizado em alegria. Quem disse que louvor
precisa ser chato, sombrio e sorumbático? Essa é a idéia da teologia
carrancuda medieval, basta lembrar que, neste período, o riso era
creditado como atividade de satanás. Louvor é a expressão da felicidade.
Da felicidade não apenas física, passageira, temporal, mas plena. Ora,
se posso – e devo – adorar a Deus com meu dinheiro, meus bens, meus
dons, minha casa, enfim, minha vida, por que, então, não poderia
adorá-lo com minha felicidade? Daí, que um show (pode-se questionar o
termo, mas esse não é o momento da uma avaliação lingüística) além da
possibilidade de louvar a Deus com minha voz, posso fazê-lo também com
pescoço, braços, mãos, pernas, pés – enfim, com o corpo em sua
totalidade. Aliás, o próprio espaço físico, antes ou depois usado para
outros fins, neste momento se transforma em espaço sacro. Nisso,
inclusive, estão todas as demandas acústicas, sonoras, estéticas,
logísticas e, por que não, econômicas. Tudo, sem excluir nenhum aspecto,
pode ser usado para a glória de Deus. Portanto, mesmo com a
possibilidade de que em algum momento o show pareça apenas diversão, não
é diversão, pois, a alegria é também para glória de Deus.
Ora,
há quinhentos anos também não se podia combinar louvor com trabalho,
mas Lutero e cia subverteram isso. A teologia reformada abençoa o
trabalho – sim, o trabalho físico – do carpinteiro, ferreiro, soldado,
tanto quanto o exercício litúrgico, sóbrio, compenetrado e sacro de um
sacerdote diante de Deus. Não existe uma atividade presunçosamente
espiritual, mais sagrada que outra, mas todas – todas mesmos –
atividades devem ser feitas para a glória de Deus.
2. Não é adoração, é diversão.
Deus
é espírito e sua adoração deve transcender ao tempo e ao espaço.
Dançar, pular, bater palmas, assobiar, gritar, tudo isso se reporta a
atividades do corpo dentro de uma espacialidade e uma temporalidade
determinado. Deus não está limitado, o louvor, portanto, transcende a
tudo isso.
Show
diz respeito a um grupo em busca de recursos financeiros e diversos
outros em busca de entretenimento. Junta-se, então, estas diferentes
demandas, dá-se uma lubrificada gospel neste arremedo de culto, com
algumas frases chavões, manifesta-se alguns chiliques espirituolóides e a
galera se esbalda no trenzinho, na paquera, na dança, e, na falta de
outro nome, chama-se isso de louvor!
Louvor
nasce na quietude da alma reconhecendo sua finitude diante majestade e
santidade de Deus; passa fundamentalmente por uma postura de
arrependimento de pecados, confissão e quietude. Como, então, isso seria
possível em um ambiente barulhento, cheios de refletores e com canhões
de luz, estroboscópios, pessoas entrando e saindo, bebendo
refrigerantes, dando gargalhadas, apreciando o visual incrementado uns
dos outros e, sobretudo dançando, dançando muito. Isto pode ser
diversão, entretenimento, hobby, atividade lúdica ou, dirão alguns,
carnalidade, menos adoração.
3. Teologia do igual mais separado, junto mais diferente. Ou o samba do teólogo doido.
A
despeito das posições anteriores antagônicas, simplistas e radicais
poderia existir uma posição intermediária? Uma tentativa de conciliação
entre adoração e diversão, dando uma seriedade na última e um pouco de
leveza na primeira? Seria possível relativisar os pontos anteriores e
conseguir um meio termo? Talvez. Quem quiser que tente. Mas, ao meu ver,
ao se tentar fazer as duas coisas simultaneamente, conseguiu-se uma
proeza: errar nas duas.
Simples,
ao adorar se divertindo ou se divertir louvando, se piorou ambas.
Faz-se um louvor avacalhado e uma diversão encabulada; um louvor
artificial e uma diversão culpada. A dita adoração é comercial,
pasteurizada, genérica e repetitiva do tipo: diga aleluia, bata palma
para Jesus, dê um sorriso para seu vizinho, cumprimente o da esquerda,
enfim, clichê. E é bom gritar desde o primeiro momento, pois o doublé de
levita (sic) no palco, vai insistir perguntando se você está sentindo a
presença de Deus. E você, compulsoriamente, terá de sentir, afinal,
pagou o ingresso pra quê?
Adoração
tem seu espaço, mas diversão também. Mas não precisamos viver
patologicamente nessa ânsia de “louvar” em todas as atividades, pois
devemos realizá-las naturalmente, como seres humanos normais, sem o
ranço da religiosidade, até porque os propalados “louvorsões” são apenas
exercício religioso mal feito para muitos, e lucro para poucos. Aliás,
proliferou em nossa época uma imoralíssima indústria da “adora$ão”. O
slogan é “uma geração de adoradores está nascendo”, e eu acrescento, uma
geração de adoradores ávida por consumir. Afinal, se chegou ao cúmulo
do cinismo em se produzir um cd com “As mais ungidas”. São mais ungidas
por que vendem mais, ou vendem mais por que são mais ungidas? E, nós
evangélicos, ainda temos o desplante de criticar a Igreja Católica por
vender indulgências e os cultos afro por cobrarem por suas oferendas. O
critério valorativo da industria do louvor é a caixa registradora.
A
industria gospel tem vergonha de se assumir como entretenimento, daí a
necessidade dessa pasteurizada na adoração. Por que crentes não podem se
reunir para se divertir? Realizar reuniões simplesmente para conversar,
brincar, desfrutar da leveza da vida? Ludicamente ouvir, ver, sentir,
cheirar e comer sem culpa? Louvar a Deus pela vida sem chavões,
esquemas, modelos, liturgias, obrigações, ranços. Maldosamente eu diria
que o mercado gospel precisa dessa camuflagem para poder vender seus
produtos para um curral domesticado. Vendendo o troço como “louvor”
pode-se fazer um trabalho amador, cobrar qualquer preço, produzir
qualquer ruindade, enfiar na goela da massa qualquer som, afinal basta
uma letrinha falando de Jesus.
Convidado
para uma festa de casamento, uma atividade pouco espiritual, Jesus não
ficou neuroticamente procurando espiritualizar a falta de vinho,
simplesmente foi lá e produziu mais. Ele não deveria ter usado seu tempo
e seus dons apenas para louvor a Deus? Entre estragar a festa com a
compulsória culpa religiosa, Jesus preferiu mais festa.
Em
um show recente em SP aconteceu o seguinte: horário da programação 20
horas, a atração do show entrou no palco mais de 23 horas, som com
problemas, anúncios mil, um revezamento de grupos e cantores para
enrolação do público com imensos intervalos com vídeos clips. Além da
aporrinhação forçosa dos cantores em exigirem que o público sentisse a
presença de Deus, depois de horas de show-embromação, mais de uma hora
de chuva no lado de fora, casa lotadíssima ainda com horário de
encerramento do metrô se aproximando. Mas era para louvor de Deus – e
benefício da conta dos produtores!
Enfim,
não é louvor por causa da irreverência domesticada, da avacalhação
festiva, da espiritualidade forçada, da artificialidade litúrgica, da
sensualidade subjacente, mas também não é diversão por causa da pobreza
amadora, da bandalheira irresponsável, da estética brega, do falso
moralismo culposo. Não consegue agradar a Deus nem aos consumidores.
Então é uma espécie de vela para Deus e outra para o diabo? Não, neste caso, ambas as velas estavam apagadas.
Autor: Gedeon Freire de Alencar - Diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, mestre em ciência da religião e autor do livro “Protestantismo Tupiniquim. Hipóteses sobre a (não) contribuição protestante à cultura brasileira”, Ed. Arte Editorial.
Autor: Gedeon Freire de Alencar - Diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos, mestre em ciência da religião e autor do livro “Protestantismo Tupiniquim. Hipóteses sobre a (não) contribuição protestante à cultura brasileira”, Ed. Arte Editorial.
Via: [ Ministério Batista Beréia ]
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